segunda-feira, 7 de junho de 2010

Peripécias do acaso – De Salvador para Aracaju


O acaso brinca com as coincidências. De teoria, é só isso. Vamos aos acontecimentos
            Depois de uma viagem um tanto cansativa pela BR 101 chego de Salvador em Aracaju numa noite chuvosa de segunda-feira. Salvador não poderia ter sido melhor e deixo um pedaço do coração nas mãos de uma baiana.
Aracaju não é umas das cidades mais glamourosas do Nordeste e não tem albergue da juventude. Assim, escolhi uma pousada barata e muito bem caprichada no bairro Atalaia, que é o point da cidade.
            Depois do banho, o primeiro passo é comer alguma coisa. No lanche perto da pousada, já coleto todas as informações primordiais: caixa eletrônico do Banco do Brasil, informações de ônibus e táxi e outras coisas mais. Daí vou a uma lojinha de artesanato ao lado, onde tem uma bela garota. O objetivo é perguntar o que tem pra fazer à noite, mas uma boa forma de iniciar a conversa é perguntar sobre a caixinha mágica. É que um sujeito me encomendou uma dessas caixinhas mágicas, que são muito comuns em Aracaju. Mas isso é assunto pra outra ocasião.
            O fato é que adentrando no estabelecimento deparo com dois sujeitos branquelos pedindo a mesma informação que eu almejava. Aí me incluí na conversa. Duas palavras foram suficientes pra ver que eram do sul. E fomos perguntando sobre as origens. Com surpresa, vimos que éramos do mesmo estado; catarinenses. E mais, da mesma região! Pra ser mais específico, eram de Cocal do Sul, aproximadamente há dez quilômetros da minha cidade. Isso já é suficiente pra se considerar uma grande coincidência. Mas a coisa não termina por aí. A viagem deles era muito parecida da minha: como eu, vinham de Salvador e seguiam pro norte, com a diferença que eles planejavam terminar a viagem em Maceió e eu seguiria até Fortaleza.
            E conversa rolando, combinamos de sair juntos à noite. Descobrimos que estávamos na mesma pousada. A conversa de bar, regada a cervejinha, mostrou-me que eram sujeitos iluminados pela luz da consciência. E, claro, considerando meus conceitos e valores, era uma coisa muito incomum existir dois sujeitos iluminados provenientes de Cocal do Sul. Ainda mais numa noite chuvosa de segunda feira em Aracaju. Mas o fato é que eram muito viajados, e aí está a origem da iluminação. Haviam morado nos lugares mais remotos e diferentes do Brasil e em alguns lugares do exterior.
            É de se destacar que a bagagem do verdadeiro estradeiro não carrega o glamour do turismo. Um deles havia pintado o prédio de uma grande escola de música nos Estados Unidos. Ele não apenas conhecia a escola. Ele havia pintado ela!
            Enfim, não precisou muita conversa pra perceber que tínhamos em comum não apenas o conhecimento da língua portuguesa. Conseguíamos estabelecer comunicação plena! E a conversa seguiu animada e descontraída, enquanto relatávamos as experiências vividas em Salvador, em especial os assédios que um branquelo do sul enfrenta em Salvador da imensa gama de vendedores e “malandros”. Quanto aos assédios, creio que eles sofreram mais do que, afinal ficaram no Pelourinho, enquanto eu fiquei na Barra. Além disso, ambos de olhos azuis. Portar olhos azuis no Pelorinho pode ser perigoso! E a conversa seguiu animada!
            Da conversa, guardei mais uma pra bagagem. Na arte de se fazer insignificante, uma camisa de posto de combustível, pode ser muito eficaz, ainda mais se estiver um pouco rasgada e suja de graxa.