quinta-feira, 22 de julho de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

Acidente de percurso

Vejam senhores, o que é um acidente de percurso! A essa altura do campeonato, eu poderia estar casado com uma doce e prestativa companheira, um piá se me agarrando as pernas, uma casinha no campo, sem luxo mas confortável, e um Fiat 147 na garagem. À noite, depois de um dia de trabalho pesado, eu deitaria na cama e teria um sono regenerador. Levantaria ao raiar do sol para mais um novo dia, assim como manda a ordem natural.

Mas eis que uma borboleta resolve bater suas asas em algum bosque remoto e lá vou eu pra capital! Com algumas roupas e a pretensiosa missão de se fazer independente, galguei o chão da rua que iria me acolher com toda a sua festividade.

Aí foi só uma questão de tempo. Fiz-me cachorro de rua, magro e sem coleira, a postar-se em frente dos portões depois de descobrir a que horas ele se abriam. E por aí fiquei perambulando nas noites de garoa fria. No concreto da rua me foi dado ensinar a lei da selva.

Enfim, o tempo, que não sabe da curta existência dos humanos, correu com a indiferença que lhe é comum. E, com um pouco de maquiagem e roupas novas, inventei um disfarce.

Hoje, olhando o abismo que me separa do caminho que eu deixei pra trás com a mudança, fiquei curioso em saber se ele não seria mais vantajoso. Fiz a conta na ponta do lápis, mas não cheguei a resultado algum. Muitos diriam que com a mudança, considerando a minha situação hoje e o ponto de partida, eu estaria num nível bastante evoluído, e que a experiência teria me garantido algum conhecimento. Mas essa é uma visão simplista. Considerando todas as nuances do cálculo, o saldo é nulo. Mas mais nula ainda, e inútil, é qualquer apreciação sobre isso. Nessa estória toda não há melhor, nem pior. Trata-se apenas de um acidente de percurso.