quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Algumas verdades sobre as coisas

Confesso que a verdade é uma das minhas temáticas preferidas, embora ela já tenha me rendido algumas incompreensões e estranhamentos nas muitas dialéticas travadas pela vida afora, em rodas de bar ou outras circunstâncias quaisquer. Dialéticas essas que sempre iniciam a partir de fatos corriqueiros e que acabam, muitas vezes pela minha influência, enveredando para questões mais profundas e filosóficas.

O termo “questão filosófica” recebe um certo desprezo por parte dos sujeitos ditos “normais”, mas há de se advertir, primeiramente, que a minha filosofia é de botequim, nasce da prática, da experiência e da observação, e carece ou dispensa o rigor por demais abstrato da filosofia da academia e as nomenclaturas todas. É motivada por uma série de perguntas que já trouxe do berço, não se sabe por quê. Há coisas que não se explicam.

Depois desse último parágrafo há de se antever que o conceito de verdade aqui adotado é o mais concreto - e porque não popular? - possível dentro desse nosso universo comum, sem relatividade. Aceitemos, portanto, que uma árvore é uma árvore.

E daí chegamos que a verdade está nas ruas, nas casas, no céu e nas pessoas. Mas muitas dessas verdades não são vistas pelas pessoas, que não costumam procurar por elas. Muitas fogem de algumas verdades como o diabo foge da cruz. Deixam-nas de fora do cerco e criam para si um universo com base na ilusão, num processo de autoconvecimento que legitima sua posição nesse universo e garante um relativo estado de paz.

É compreensível. A verdade incomoda igual pedra no sapato. Por que não expulsar a pedra para fora? Não há nada de errado em expulsá-la. O fato é que ela retornará. Pode-se levar uma vida acreditando em coisas quaisquer, como a crença que somos bons, e que as pessoas são boas ou más, exclusivamente, como nos mostra a telenovela das seis. Podemos passar uma vida toda achando que, em algum momento, pelo menos, amamos, quando o que tivemos a vida toda foram apenas paixões, unicamente paixões dos mais variados tipos. Muitos podem passar uma vida acreditando estarem contribuindo muito para o nosso belo quadro social, quando é a sociedade que tem contribuído para os seus próprios quadros. E outros podem supor-se superiores ou ganhadores, quando o jogo sequer começou.

Um belo dia, uma grande ventania soprará tudo e por debaixo da poeira, sobrará apenas a verdade nua e crua. A verdade resiste à todas as intempéries. O iceberg emergirá e a sujeira acumulada por anos debaixo do tapete virá à tona. Não é profecia. As ilusões e mentiras são criações humanas, e como criações humanas estão suscetíveis a desfazer-se.

Perante esse quadro, restam dois caminhos a seguir. O dos deleites da ilusão total com prazo de validade ou o da tentativa de criar um mundo mais realista e duradouro.

Por fim, não há para o dono da verdade motivo algum para alimentar sua vaidade. Ademais, corre ainda o ilógico risco de ser o mundo dos iludidos a verdadeira verdade, mas acredito que aqui distorcemos o conceito acima estabelecido. E dado que aceitássemos essa hipótese, eu ainda preferia correr o risco.