terça-feira, 18 de maio de 2010

Talvez alguma coisa muito nova possa me acontecer

Parece que viajar expande a consciência. E viajar, aqui, não significa necessariamente sair do lugar de onde se está. Pra isso existe a arte e talvez outros departamentos mais. Outro dia, numa viagem às origens, num lugar remoto do Rio Grande do Sul, onde tudo é primitivo, achei-me num suposto estado avançado de consciência, enquanto olhava, cheirava e pisava à terra onde a Providência quis fossem fixadas algumas raízes minhas. E, então, mais uma vez, constatei abismado como aquele meu estado representava uma quebra na ordem natural. A natureza não precisa da consciência. A luta pela sobrevivência pode ter dado origem à ciência, mas a luz do auto-conhecimento parece ser a coisa mais sobrenatural no mundo da vida. E se o homem for responsável por essa luz, é a sua maior ousadia em relação à Criação. A consciência não cabe no mundo material. Quando o sujeito e o objeto se fundem num só, quando "se sai de dentro da própria cabeça", algo novo e inexplicável acontece. A verdade se materializa, pura, nua e crua. Não temos mais sujeito nem objeto, talvez o cosmos. E para que serve a consciência? A princípio, parece que não vai trazer a felicidade duradoura. Quando muito, um estado ilusório e passageiro do ego. É mais provável que traga a dor, ou outros estados parecidos, assim como parecem ser os estados de aprendizagem. Mas ela é tão bela, tão pura, e tão sublime! Pode ser que, ao fim, ela seja a luz pra mais árdua e grandiosa revolução!


Minha cabeça só pensa aquilo que ela aprendeu
Por isso mesmo, eu não confio nela eu sou mais eu
Sim... pra ser feliz e olhar as coisas como elas são
Sem permitir da gente uma falsa conclusão
Seguir somente a voz do seu coração

E então, e então

É preciso você tentar
Mas é preciso você tentar
Talvez alguma coisa muito nova possa lhe acontecer


Aquela coisa, Raul Seixas

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