quarta-feira, 9 de outubro de 2013

A propósito de uma passagem

Quando mudei-me de volta para a capital, estabeleci-me por dois meses na casa de um antigo colega de andanças até arranjar-me em definitivo. Era uma espécie de porão espaçoso no alto de um morro com vista para uma baía.

Esse meu camarada, apreciador de vinhos, também sabia apreciar a boemia. Era companheiro de cachaçada e a nossa palestra era viva e animada. Em que pese algumas diferenças no modo de ser, ele um tanto grosseiro, eu um pouco mais refinado, sem qualquer distinção de valor nessas características, tínhamos em comum o gosto pela filosofia. Não essa filosofia cursada, de academia, mas a filosofia de botequim, aquela que nasce espontânea da observação despretensiosa.

Nesses dois meses passaram pelo leque de assuntos temas interessantes da política, economia, religião, comportamento humano, em especial da psique feminina.

Ao fim desse período, arranjei moradia definitiva e vim-me embora. Coincidiu de ele também mudar-se, algumas semanas depois da minha saída, no entanto para outra cidade.

Desabitamos o porão e creio que o que ficou desses dois meses de debates, a maior parte das vezes, regados com um toque de humor, foram duas coisas. A primeira, foi uma certa consolidação de alguns conhecimentos no repertório de cada um. A segunda coisa que ficou, constatamos quando fui ajudá-lo com a mudança. Depois de retirar a tralha toda do habitáculo, deparamos com quase cinquenta garrafas de vinho vazias, acumuladas debaixo da pia.

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