segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O fenômeno da solteirice nos tempos atuais

Percebe-se que há hoje no nosso meio social uma grande incidência de solteiros, ou que pelo menos assim se declaram, e, não seria demais ariscar, até mesmo a presença de um certo culto pela solteirice. Uma legião de homens e mulheres adultos e independentes vivendo sozinhos. 

Para entender esse fenômeno, é importante compreender algumas modificações comportamentais e de valores que têm ocorrido na nossa sociedade em especial nos últimos cinquenta anos.

É uma tônica das últimas décadas no que concerne a qualquer tipo de relação interpessoal a busca e a valorização da independência, liberdade e individualismo. Prova disso são os reflexos no setor imobiliário, como a busca por apartamentos compactos, de um dormitório. Palavras de ordem da modernidade, liberdade e independência soam fascinantes em discursos das mais variadas causas. 

Nessa busca, muitas conquistas foram alcançadas no âmbito dos relacionamentos. Muito embora não se possa analisá-las isoladamente sob o aspecto do gênero, é evidente que essas mudanças ocorreram de forma muito mais acentuada em relação às mulheres. E chegamos num assunto recorrente nos debates comportamentais dos dias de hoje: a tal independência feminina. Não obstante o assunto aqui tratado envolve muitas questões distintas, é comum a discussão sobre relacionamentos nos dias de hoje, em algum momento, esbarrar nesse ponto.

Os diversos aspectos da independência feminina tem como carro-chefe a independência financeira. A partir do momento em que a mulher independe do homem para sustentar-se, ela passa a desenvolver e expressar sua personalidade a partir da experimentação e da escolha, passando a ter, portanto, uma postura mais ativa.

Essa atitude feminina ainda hoje afugenta uma grande parcela da ala masculina, de forma que poderia se dizer causar sim uma certa dificuldade na realização afetiva não apenas da mulher, mas de forma geral. O homem da velha guarda não lida bem com a idéia da mulher caçadora, que, por exemplo, num primeiro contato toma a iniciativa de abordá-lo ou convidá-lo para sair.

Mas para além desse aspecto, e de forma mais intimamente relacionadas com a questão, estão as rápidas mudanças em todas as esferas da vida social, influenciadas, por exemplo, pelo consumismo. Vivemos uma era em que tudo se consome e a qualquer momento podemos trocar um bem por outro que nos traga mais satisfação. Esses bens da modernidade, as facilidades dos meios de comunicação, as redes sociais, o sexo fácil, parecem deslumbrar. E esse padrão dos bens de consumo passa a ser aplicado ao amor. É o conceito do "amor líquido".

Essa noção é relevante para o assunto aqui tratado, na medida em que modifica o padrão dos relacionamentos, tornando-os instáveis ou até mesmo transformando-os no popular "rolo", em que a pessoa declara-se solteira mesmo tendo alguma espécie de relacionamento.

Todos esses elementos recentes tratados nesse texto aliam-se ao não tão recente medo de amar, de que fala Raul Seixas e talvez o tornem maior ainda.

Se nos perguntarmos, ao final das contas, se com todas essas mudanças que contribuíram para uma legião de solteiros, qual seria o saldo, se teríamos evoluído para um caminho melhor, talvez o saldo, por ora, seja nulo. Se por um lado estamos mais exigentes, deixando de nos relacionar com alguém apenas por convenção, por outro lado parece que ainda não conseguimos equacionar algumas questões.

Talvez vivemos uma época de mudanças, em que a próxima era nos dará algumas respostas. Talvez quando passar o deslumbramento inicial de algumas conquistas veremos que ainda faltará algo. Talvez quando os homens perceberem que as mulheres são mais belas quando livres e quando compreendermos que toda espécie de relacionamento tem seus ônus e bônus e de que não podemos lutar contras as adversidades do destino sozinhos, sem companheiros de vida, aí poderemos sim, quiçá, ter um saldo positivo.

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