sábado, 14 de agosto de 2010

Da dor e da arte

Aí estão dois elementos de natureza distinta, mas intimamente relacionados. O primeiro é sentimento; o segundo, expressão. Um é sentidos, o outro músculos.

Todo ser há de carregar sobre os ombros um pouco de dor. Uns carregam mais, outros menos, é verdade. Como já dizia Shakespeare, cada um sabe as dores e delícias de ser o que é. E uma pitada de tristeza não faz mal. Dizem os artistas, que embeleza o quadro, embora à primeira vista isto parece soar incompreensível.

Da dor, floresce a arte, que se apresenta como um canal de transcendência, por onde se entra em contato com o divino. Dor e arte convivem numa relação de simbiose. A arte suprime a dor, exatamente porque a primeira pressupõe a aceitação da segunda.  Pode-se dizer que se trata de um estado de consciência. É a partir daí que se quebra um vínculo, quando o ser, em sua transcendência, desincorpora.

E a arte, por sua vez, precisa da dor. Diz a música que pra se fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não.

Os verdadeiros artistas carregam tristeza em alta dose. Mas, por sua vez, eles possuem um tesouro raro: a arte! Dor e arte pintam, no quadro da vida, o inabalável equilibrio.

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